Como Tratar Húmus de Minhoca


Olá,

Aquários plantados podem ser verdadeiras jóias para muitos aquaristas. Seja uma montagem comum; em estilo Holandês ou então com um ótimo aquapaisagismo, cultivar plantas aquáticas saudáveis e vigorosas é um desafio prazeroso para qualquer pessoa.

Mantido sobre a tríade substrato fértil x CO2 x iluminação, superar esse desafio está cada vez mais fácil: hoje em dia temos a nossa disposição infinitos materiais que facilitam a tarefa de manter um aquário plantado. Porém, assim como a variedade de produtos aumentou, os preços elevaram-se na mesma medida, principalmente quando tratamos de substratos industrializados: são muito práticos e eficientes, mas pecam pelo preço, que costuma ser elevadíssimo. Um bom substrato, balanceado e de boa granulometria não custa menos do que R$40,00 o quilo, mas existem alguns especiais que ultrapassam uma centena de reais. No final, somando só a quantia de dinheiro despendida com o substrato supera-se o valor do próprio aquário.

Por esse motivo, muitos aquaristas recorrem à uma ótima alternativa: o húmus de minhoca, que nada mais é do que fezes de minhocas, que se alimentam de um substrato pré-determinado (constituído de matéria orgânica diversa, como esterco bovino ou material composto).


Húmus da espécie Eisenia foetida, a conhecida Minhoca Vermelha da Califórnia. Existe outra espécie também
conhecida por esse nome, a Lumbricus rubellus, que produz húmus de semelhante qualidade.

Ele é barato, fácil de de encontrar, atende perfeitamente as necessidades nutricionais das plantas e seu tratamento pode ser realizado por qualquer pessoa. São milhares os aquário montados usando húmus como substrato fértil, dando resultados incríveis. Inclusive muitos aquaristas que iniciam nos plantados começam com húmus, mantendo-se fiéis mesmo depois de terem adquirido vasta experiência.

Como todo produto, o húmus possui também pontos negativos que devem ser observados: possui alta carga biológica, seja pelo material em decomposição (restos de folhas, galhos, raízes) ou seja pela quantidade de microorganismos (bactérias, fungos e pequenos invertebrados) presentes no mesmo. Ambos podem causar sérios problemas no aquário, como fermentação e conseqüente liberação de gases tóxicos como o gás Sulfídrico. Para evitar esse e outros problemas, o húmus deve passar por um tratamento antes de ser usado no aquário. Tal tratamento serve justamente para eliminar o excesso de carga orgânica.

O processo pode ser resumido em basicamente 3 passos principais: lavar + ferver + lavar. As primeiras lavagens retiram a sujeira mais grossa (pedaços de galhos, raízes, folhas, pedras etc); a fervura mata todos os organismos e as demais lavagens terminam de limpar o húmus, retirando a sujeira mais finamente particulada.

Obviamente o tratamento ganha variações conforme o aquarista, que pode ser do mais simples e crú como o descrito acima até aquele mais diversificados e detalhados. Cada tipo de tratamento resulta no mesmo produto final, porém com diferenças de rendimento e de granulometria. A qualidade do húmus escolhido também influencia no rendimento. Como é possível encontrá-lo em supermercados, agropecuárias e casas de jardinagem, geralmente tem-se a possibilidade de escolha.


Escolha sempre um húmus de qualidade, de boa procedência.

Para definir se o húmus é de qualidade, basta observarmos o seu conteúdo que deve ser relativamente uniforme, sem muitos galhos, pedaços de folhas e pedras, sejam esses grandes e/ou aparentes. Deve ser soltinho e fofo, com pequenos aglomerados e apenas levemente úmido. Sua cor pode variar do castanho ao quase preto, mas deve ser sempre escura.

Se o húmus apresentar pedaços muito grandes de folhas, folhas secas, pedras em excesso ou até mesmo pedaços de esterco, descarte-o, pois não se presta para esse fim.

Antes de iniciar as primeiras lavagens, é aconselhável passar todo o húmus por uma peneira, de malha média. Neste processo inicial, conseguimos eliminar com eficiência a maioria dos galhos, raízes, pedaços de folhas e pedriscos. Possui a vantagem de retirar tais materiais que afundariam na água, através do método tradicional.


Pode-se usar uma peneira velha, caseira mesmo e de malha média, para ajudar a retirar materiais indesejáveis do húmus.

Após peneirado, o húmus ganha uma aparência mais volumosa, muito macia e uniforme, sem os aglomerados e conseqüentemente melhor de se trabalhar. O que sobra na peneira é um material que lembra cascalho no que se refere a sua granulometria, tudo o que seria muito mais arduamente retirado nas lavagens. Tal material pode ser misturado à terra do jardim ou dos vasos de plantas, pois fornece sais minerais essenciais, fertilizando o solo e beneficiando as plantas.



A primeira imagem mostra o húmus após ser peneirado.
A segunda imagem mostra o que é retirado do húmus após o processo.

Uma alternativa viável e funcional à peneira seca, é realizar o processo com a malha do utensílio mergulhado na água, em um balde ou bacia. Coloca-se o material na peneira, então mergulhe-a parcialmente na água, de forma que metade dele fique submersa. Com a outra parte fora d'água, vá remexendo o húmus, esfregando e desmanchando os aglomerados com as mãos. Essa técnica tem a vantagem de que dissolve o húmus impregnado nos detritos, e também faz o mesmo com todos os aglomerados, tendo um aproveitamento muito maior do material.


Uma alternativa é peneirar o húmus na água: assim retira-se muito mais desse material, tendo um rendimento bem maior.

Independentemente de como se escolhe iniciar o processo, o húmus deve passar por algumas lavagens iniciais. Nessas lavagens grande parte do material orgânico, que passou pela peneira por ser pequeno demais flutuará ou ficará em suspensão na água. Ao descartar tal água e renová-la, retiram-se tais materiais indesejáveis.

Reparem na diferença de quantidade de material flutuante na água das duas imagens: na primeira o húmus foi peneirado e na segunda ele não foi, sendo jogado diretamente na água no modo tradicional. Percebe-se que peneirar o húmus ajuda a retirar detritos maiores e fazer com que os menores flutuem mais facilmente, tornando a tarefa de retirá-los menos trabalhosa.

Para retirar o material flutuante, é interessante ir inclinando levemente o recipiente, de forma com que a água saia devagar, retirando mais detritos. Se virar rápido demais boa parto dos detritos acabam ficando, forçando a repetir mais vezes esse processo do que o realmente necessário. Repita esse processo algumas vezes, de 2 à 5x se peneirar o húmus ou de 5 à 8x se colocar o húmus direto na água. Pode-se parar as lavagens quando não notar mais detritos em excesso flutuando.


Vire o recipiente para que a água saia lentamente levando consigo os detritos que flutuam e que estão em suspensão.

Após terminado o passo anterior, chega-se a outro de extrema importância: a fervura. Ferver o húmus assegura a eliminação dos muitos microorganismos nele presentes, que podem ser potencialmente patógenos, seja direta ou indiretamente. As lavagens iniciais não matam nem retiram tais seres (na verdade a quantidade que o processo elimina é irrisória), por isso é importante ferver.

Se a quantidade de húmus for pequena, pode-se ferver em algum recipiente metálico (panelas velhas são ótimas para tal finalidade) no fogão mesmo. Se a quantidade for maior, pode-se usar barris de metal cortados ao meio ou até mesmo tachos, colocados em cima de fogueiras improvisadas. O tempo de fervura pode variar algo entre 20 à 30 minutos, o que garante uma esterilização segura e confiável.


Ferver o húmus por meia hora, em uma panela fora de uso, assegura uma boa esterilização.

Durante a fervura pode acontecer de respingar, como está muito quente tome cuidado. É melhor ferver sem tampar, pois ao fazer isso corre o risco de criar uma espuma e transbordar. O húmus durante o cozimento libera um odor semelhante ao de argila, um pouco desagradável, que pode provocar náuseas em determinadas pessoas. Se fizer dentro de casa, mantenha sempre que possível as janelas e portas abertas.

Terminada a fervura, basta esperar o húmus esfriar totalmente para então começar a lavá-lo. Tome cuidado, pois algumas vezes ele fica morno na superfície mas ainda está bem quente mais ao fundo, por isso é bom esperar 1 hora antes de dar continuidade ao tratamento.

Após frio, recomeçamos a lavá-lo, como anteriormente. Porém, dessa vez não se faz necessário inclinar o recipiente lentamente. Agita-se muito bem o húmus com as mãos, aguarde alguns segundos e despeje a água. É interessante aguardar tais segundos pois o húmus assenta nesse tempo, e o que ficar em suspensão é o que se deve descartar.


 Novamente lava-se o húmus repetidas vezes. As sujeiras escuras na pia, que lembram areia de longe, são minúsculos pedacinhos de galhos, folhas etc. Note também que a água descartada das lavagens começa a ganhar um pouco de visibilidade.

Não existe um número exato de quantas vezes se deve lavar o húmus, pois varia de acordo com as técnicas aplicadas por cada aquarista e também de acordo com sua vontade. Alguns param enquanto a água está bem turva, outros preferem parar quando a água estiver mais clarinha enquanto outros ainda preferem lavar até a água ficar bem limpa.

O ideal é parar quando a água perder aquele aspecto de água "barrenta", quando estiver um pouquinho mais limpa. Lembrando que não é possível deixá-la 100% transparente. Existem relatos de aquaristas que insistiram em lavar até a água ficar totalmente limpa e como resultado perderam quase todo o húmus, sobrando no balde apenas uma areia fina e inerte, inútil ao seu propósito inicial.


 Observe que já é possível enxergar através da água, que ela já não apresenta um aspecto "barrento".

Quando considerar que já está limpo o suficiente, pode-se encerrar definitivamente as lavagens. A água do descarte das lavagens iniciais e finais carrega consigo uma porção de sais minerais e outros compostos benéficos para plantas, por isso se desejar regar o jardim com essa água, pode fazer com segurança. Seria como se estivesse fertilizando-as.

Nesse ponto, possuímos duas alternativas: ou usamos o húmus diretamente no aquário, se já estivermos com tudo pronto para a montagem ou o secamos para armazenamento e uso futuro. Se desejar aplicá-lo diretamente, pingue algumas gotas de anti-cloro no balde com o húmus e a água, verifique se já não existe cloro e então pode usar.

Agora se não deseja usá-lo no momento e quer guardá-lo, será necessário fazer com que ele passe por um processo de secagem. O processo pode-se dar através da exposição natural a luz do sol ou através do uso de um forno elétrico.


 Húmus pronto para ser seco: na primeira imagem em cima de uma lajota, para ser seco ao sol.
A segunda imagem dentro de uma forma para ser seco no forno elétrico.

Para secá-lo ao sol, peque alguma superfície plana e limpa, como uma placa de isopor ou até mesmo um pedaço de madeira revestido de algum material plástico, pode-se também pegar algum plástico atóxico, estendendo-o em cima do chão, e então coloca-se o húmus. Distribua de forma uniforme, e em uma camada fina, que não ultrapasse 1 centímetro. Uma camada fina garante que a secagem seja muito mais rápida. Dependendo da temperatura em 1 ou 2 dias o húmus está pronto.


Independentemente de como escolher secar o húmus, deve-se ter sempre o cuidado de deixá-lo em camadas finas, para acelerar o processo.

Se optar por secar ao forno, basta também distribuir o húmus sobre uma forma (de bolo, de pão, de pizza etc. que esteja fora de uso), em uma camada que não ultrapasse 1 centímetro, colocando para "assar" no forno à 200°C, o tempo varia, mas uma forma grande com 1cm de húmus secou em aproximadamente 30 minutos. É interessante interromper de vez em quando a secagem para remexer o húmus com algumas colher velha, agitando, isso garante que ele vá secando de maneira uniforme. 

Após seco, espere esfriar por 30 minutos antes de guardar. O forno ainda apresenta a vantagem de assar o húmus a uma temperatura superior a da fervura, garantindo que qualquer microorganismo sobrevivente seja eliminado nessa etapa.


Húmus muito bem seco e peneirado, pronto tanto para o uso em aquários ou para armazenamento.
Observe como ficou uniforme e granulado.

Após seco, é conveniente passar o húmus por uma peneira de malha média novamente, para dar a ele granulometria e textura agradáveis, semelhante a dos substratos industrializados.


Observe sua textura e tamanho comparados a uma mão adulta.

Ele pode ser armazenado em potes ou baldes que contenham tampa. Se bem fechado e se o húmus estiver bem seco, pode ficar guardado por tempo ilimitado. É freqüente o caso de aquaristas que não secam bem, guardando-o ainda úmido. Dessa forma, além de empedrar, perdendo sua textura ele pode "mofar". Fungos também são indícios de que o húmus ainda possuía muita matéria orgânica e que não foi corretamente tratado. Por isso é importante que esteja bem tratado e seco.

Deve-se ter consciência de que é impossível retirar todo o material orgânico do húmus de minhoca, que inevitavelmente sempre sobrarão alguns pedacinhos minúsculos (de 1 à 3mm) de folhas ou galhos, mas que não representam perigo se não forem abundantes.

Então, após esse processo relativamente trabalhoso, mas rentável, temos um substrato perfeito para as plantas dos nossos aquários, que satisfaz às demandas das mais simples até as mais exigentes. Sem perder em nada para os substratos industrializados, com a vantagem de ser mais econômico, totalmente ecológico e de ser o próprio aquarista que preparou.

Húmus de minhoca, com certeza uma ótima opção!


fonte: Aquaflux

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